Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

Em 2018, o desmatamento foi responsável por quase metade das emissões totais de gases do efeito estufa (GEE) do Brasil, com as atividades de agricultura e pecuária, intimamente ligadas à perda de floresta, respondendo por mais um quarto do total. Nesse mesmo ano, a pecuária atingiu quase um quinto de todas as emissões no país. Se o desmatamento para a agropecuária for levado em conta, essa participação sobe para 45%.

As descobertas fazem parte de uma nova análise do Earthsight, uma Organização Sem Fins Lucrativos (ONG) do Reino Unido. Com o título: ‘A Loteria do Carbono: estimativa do rastro de carbono embutido nas importações europeias de carne bovina brasileira’, a investigação destaca como os importadores devem se tornar responsáveis por obter carne bovina ligada ao desmatamento.

O desmatamento só na Amazônia brasileira tem aumentado a cada ano desde 2017, e saltou 30% de 2018 para 2019. Nesse ano as áreas desmatadas nos primeiros seis meses aumentaram 24% em comparação com o mesmo período de 2019, atingindo 2.544 km², a segunda maior quantidade em qualquer semestre desde 2010.

Este ano a floresta vive o pior início da temporada de incêndios no Brasil em uma década, com as queimadas no bioma Amazônia correndo o risco de ultrapassar as de 2019, que aumentaram 85% em relação à 2018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O que está por trás de tudo isso? A expansão de pasto para criação de gado

A análise se baseia em estudo recente do Instituto Escolhas, que calculou a pegada média de emissões da carne bovina produzida em cada estado brasileiro ao longo de uma década, inclusive para diferentes tipos de sistemas representativos de manejo de rebanho e qualidades de pastagens.

A investigação estimou que o rastro de carbono média nacional da produção de carne bovina, entre 2008 e 2017, variou de 25kg a 78kg CO2e (emissões de carbono equivalente) por quilo de carne bovina, dependendo do desmatamento. Em contraste, o CO2e médio por quilo de carne bovina produzida na UE foi estimado em cerca de 22 kg.

Em um cenário de avanço das queimadas e dos incêndios na parte sul da floresta, situada nos estados do Mato Grosso e Tocantins, que registram potenciais recordes históricos de fogo, o sinal foi dado: é agropecuária expandindo o pasto. Ao menos cinco fazendeiros foram apontados em um inquérito policial como autores de incêndios no Mato Grosso na última semana.

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